8 de set. de 2025

FRANZ KAFKA & Sua Obra




–  Pedro Luso de Carvalho

FRANZ KAFKA nasceu em Praga no dia 3 de julho de 1883; vítima de tuberculose, morreu em 3 de junho de 1924, no Sanatório de Keerling, perto de Viena; foi enterrado em Praga, no Cemitério de Straschinitz. Nessa época Kafka era conhecido apenas por um círculo de amigos; sua obra somente seria conhecida 20 anos após sua morte, quando seu talento criativo foi reconhecido por nomes importantes, dentre eles o poeta inglês W.H. Auden, que assim manifestou sua admiração pelo escritor tcheco: “se eu tivesse que escolher o autor que tem para com nossa época aproximadamente a mesma relação que Dante e Schakespeare para com a sua, Kafka é o primeiro nome em que eu pensaria”.
Outros nomes importantes ligados à literatura também deram seu depoimento sobre Kafka, como ocorreu com o renomado ensaísta George Steiner; para ele, “Nenhuma outra voz testemunhou de maneira mais fiel à natureza de nossa época”. O escritor francês Paul Claudel, que não ficou distante da comparação feita por Auden, afirmou que, “Ao lado de Racine, que para mim é o melhor de todos os escritores, há um: Franz Kafka”.
Parte da obra de Kafka foi traduzida do idioma alemão, no qual se expressava, para o espanhol; o célebre escritor argentino Jorge Luis Borges traduziu O processo, que foi publicado pela Editora Losada, de Buenos Aires, em 1939; uma nova edição dessa obra deu-se somente no ano de 1962. Antes dessa edição, a Editora Losada publicou A metamorfose, em 1943.
Jorge Luis Borges, admirador de Kafka, disse que “Duas ideias, ou melhor, duas obsessões regem a obra de Franz Kafka: a subordinação é a primeira, e o infinito a segunda. A mais indiscutível virtude de Kafka é a invenção de situações intoleráveis. Para registrá-las de maneira definitiva bastavam-lhe algumas frases (...). O argumento e o ambiente são o essencial, não as evoluções da fábula nem a penetração psicológica. Daí a primazia de seus contos sobre as novelas longas”.
No decorrer dos anos a obra de Kafka foi traduzida para muitas línguas, tendo uma sólida aceitação; no ano de 1961, Harry Järv levantou em torno de cinco mil títulos compondo a bibliografia de Kafka. A divulgação da obra de Kafka, no entanto, foi cheia de obstáculos nos 20 anos que transcorreram após sua morte; Max Brod, amigo e seu testamenteiro, lutou incansavelmente para divulgar a obra de Kafka, contrariando o pedido do escritor para que destruísse todos os seus livros, que ainda não haviam sido publicados. Não saberia dizer qual o número de títulos bibliográficos existentes até o ano de 2007, mas, não tenho dúvida, é bem maior que o relacionado por Järv.
A obra de Kafka começou a ser conhecida na França em 1928, quando eram publicados em revistas apenas pequenos trechos de seus livros; em 1933 a ed. Gallimard publicou O processo; a partir daí nomes importantes como Aldous Huxley, André Gide, Hermam Hesse, Thomas Mann, Virginia Wolf, Albert Camus, além de outros escritores e ensaístas, passaram a dar atenção à genialidade de Kafka, e a contribuir para a divulgação de sua obra.
A escritora Tânia Franco Carvalhal faz referência a esse reconhecimento, dizendo que “Esta informação de Brod ratifica a popularidade de Kafka entre homens de letras que, sob a égide de Proust, de Joyce e do escritor tcheco, representam etapas significativas na evolução do romance contemporâneo. Muitos críticos vão situar Kafka nas origens de toda a literatura contemporânea e Claude Mauriac preferirá considerá-lo como a fonte de toda a literatura contemporânea”.
Albert Camus, conhecedor da obra de Kafka, socorreu-se dele para explicar o tema do absurdo contido na sua obra Le Mythe de Sisiphe, em 1939. Camus analisando a obra de Kafka disse que o segredo do escritor tcheco encontra-se na contradição que se vê no trecho de O processo, em que a sua personagem Joseph K. é alguém que não se surpreende e não se deixa surpreender nos perpétuos balanços entre o natural e o extraordinário, entre o indivíduo e o universal, entre o trágico e o cotidiano, entre o absurdo e o lógico.
As obras-primas de Kafka, O Processo (1925), e O Castelo (1926) foram publicadas postumamente graças aos esforços empreendidos por Max Brod. No período precedente foram publicados: Descrição de uma luta (1905), Diários (início em 1910), O veredicto (1912), A metamorfose (1912), Contemplação (1912), Narração do espólio (1914-24), Na colônia penal (1914), Amérika ou O desaparecido (1914), Um médico rural (1918), A grande muralha da China (1918), Carta ao pai (1919); Um artista da fome ( 1922-24), O foguista (1923), A construção (1923 ), e alguns contos e novelas escritos nos anos 20: Poseidon, De noite, Do problema da lei, Investigação de um cão (1922), Uma mulherzinha (1923).
Com o passar dos anos, Franz Kafka torna-se mais conhecido do público leitor, graças ao reconhecimento de sua genialidade por escritores, ensaístas e críticos de renome, fato esse que encoraja frequentes reedições de seus livros, como é o caso de Desaparecido ou Amerika, publicado pela Editora 34, em 2004, com a tradução e posfácio de Suzana Kampff Lages.
Enfatiza Suzana Kampff Lages, no seu posfácio, que “O desaparecido ou Amerika, como ficou conhecida esta obra de Franz Kafka, conforme o título dado pelo amigo e editor póstumo, Max Brod, é um romance inacabado, ou melhor, um fragmento de romance. Concebido na primavera de 1912, é composto por fragmentos de uma história que se queria – nas palavras do próprio Kafka – dickenseana, ou seja, inspirada num exemplar do tradicional modelo do romance realista, por um lado, e por outro, uma história projetada para o infinito”.
Aproveito o ensejo para render homenagens a outro importante tradutor de Franz Kafka, do alemão para o português: Modesto Carone, escritor, ensaísta, e professor de literatura, tendo lecionado nas universidades de Viena, São Paulo e Campinas. Dentre as obras de Kafka, que traduziu, uma delas, O processo, o Prêmio Jabuti de Tradução de 1989.
Encerro com um trecho do ensaio de Harold Bloom, intitulado Kafka: Paciência Canônica e “Indestrutibilidade”, in O Cânone Ocidental: “Tudo que parece transcendente em Kafka é na verdade uma gozação, mas fantástica; a gozação que emana de uma grande doçura de espírito. Embora adorasse Flaubert, ele possuía uma sensibilidade muito mais delicada que a do criador de Emma Bovary. E, no entanto suas narrativas, curtas e longas, são quase invariavelmente brutais nos acontecimentos, tonalidades e provações. O terrível vai acontecer. A essência de Kafka pode ser transmitida em muitos trechos, e um deles em sua famosa carta à extraordinária Milena. Apesar de agonizantes como frequentemente são, suas cartas estão entre as mais eloquentes de nosso século”.



     REFERÊNCIAS:

BLOOM, Harold. O cânone ocidental: Os livros e a escola do tempo. Tradução de Marcos Santarrita. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001, p. 431.
CARVALHAL, Tânea Franco. A Realidade em Kafka. Porto Alegre: ed. Movimento, 1973.
KAFKA, Franz. O Diário Íntimo de Kafka. Nova Época Editorial, [198-?].
IZQUIERDO, Luis. Conhecer Kafka e a sua obra. Tradução de Manuel Mota. São Paulo: ed.Ulisseia, [198-?].
KAFKA, Franz. Descrição de uma luta. Rio de Janeiro: ed. Nova Fronteira, 1985.
KAFKA, Franz. O desaparecido ou Amérika. Trad. e posfácio de Suzana Kampff Lages. São Paulo: Editora 34, 2004.
KAFKA, Franz. Narrativa do espólio. Trad. de Modesto Carone. São Paulo: Companhia Das Letras,2002.



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26 de ago. de 2025

MOZART - Parte VII (Final)




     - Pedro Luso de Carvalho

Na última postagem deste trabalho (Mozart – Parte VI), dissemos que o músico deligou-se do Arcebispo Colloredo, depois que Leopold, seu pai, tentou convencê-lo, sem sucesso, a manter o seu emprego em Salzburgo. E que se mudou para Viena, onde casou com Constanze Weber. E que, depois, passou a empreender viagens em busca de novos recitais. Então, viajou para Praga, Dresden Leipzig e Berlim.
Nessa nova empreitada, Mozart teve de suportar fracassos, que foram intercalados com triunfos eventuais. Constaze, a esposa, incentivava-o para que continuasse compondo. Para o músico, no entanto, esse seria o início de uma jornada permeada de sofrimentos. Teria que enfrentar as dificuldades financeiras e as doenças que viriam agravar sua saúde, já muito debilitada. (Mozart, reconhecido como mestre da melodia, que com simplicidade e graça construiu sua música com pureza e elegância, continuou pobre toda a vida, pelo fato de não ter sido dotado de talento para os negócios.)
No ano de 1784, filiou-se na Maçonaria. No verão de 1785, escreveu Música Fúnebre dos Pedreiros Livres, para os funerais de um irmão maçom. Aliás, o tema sobre a morte não ficaria restrito a essa música; Mozart escreveria mais tarde o magnífico Requiem, que deixaria inacabado, e que seria completado por seu fiel discípulo Süssmayer, que possuia inteiro conhecimento das intenções do mestre. (Walsegg fez executar a obra em Wiener-Neustadt a 14 de dezembro de 1793, sendo reconhecida a autoria de Mozart.)
O pensamento sobre a morte, aliás, não deixou Mozart, nos seus últimos anos de vida. Pensava continuamente na morte. Embora sempre se mostrasse alegre previa talvez um fim prematuro. A carta de 4 de abril de 1787 ao pai – a última que lhe escreveu -, deixa tranparecer um Mozart obstinado pela música.
A Flauta Mágica foi estreada no teatro Schicaneder, a 30 de setembro de 1791; o próprio Mozart regeu as duas primeiras récitas. Não teve o êxito esperado pelo compositor. O motivo do frio acolhimento, talvez tivesse como causa a complexidade do texto; mas não demorou para que a ópera conquistasse o público. A Flauta Mágica constituiu-se no primeiro êxito de Mozart, com mais de cem apresentações na época.
Com o êxito indiscutível de sua ópera Rapto no serralho (1782), no entanto, parecia assegurado o triunfo de Wolfgang, que encarava agora com otimismo o futuro. Em fins do verão de 1783, o músico e a esposa passaram três meses em companhia do pai, em Salzburgo. Na primavera de 1785, Leopod visitou o casal em Viena; essa foi a última vez que se viram pai e filho (Leopold faleceu no dia 22 de maio de 1787).
Um ano antes dessa última visita de Leopold a Wolfgang, Constanza havia dado à luz a um menino, Raimund Leopold, a 17 de junho de 1784; o filho morreu a 19 de agosto seguinte; talvez esse fato fosse o prenúncio dos sofrimentos pelos quais passaria Mozart, que, nessa época, já havia conquistado o posto de um dos maiores mestres da arte lírica. (Dois dos três filhos de Mozart sobreviveram. O mais velho, Karl, tentou música por algum tempo, deixando-a para ingressar no serviço público; viveu a maior parte do tempo na Itália, morrendo em Milão. O mais novo, Franz Xavier Wolfgang, teve vida menos feliz; foi bom pianista, mas compositor medíocre.)
Enfermo, como evidentemente estava, em 1791 Constanza não teve escrúpulos em deixá-lo mais uma vez, e ir para Baden, em busca de “cura” e de prazeres. Chamaram-na em meados de novembro. Mozart encontrava-se já confinado na cama, donde nunca mais se ergueria. O seu espírito absorvia-se em A Flauta Mágica, que ansiava por ouvir mais uma vez, e no ainda inacabado Requiem.
O músico iniciou a composição da ópera Flauta Mágica, por encomenda de seu amigo Emanuel Schicaneder, cantor, ator e empresário. Essa obra prima de Mozart nasceu de um conto de fadas. O público recebeu a ópera com grande entusiasmo. Em homenagem a Mozart, Schicaneder mandou reformar e ampliar seu teatro, decorando-o com figuras dos personagens da ópera.
Com a finalidade de que Mozart pudesse manter uma existência condigna, um grupo de húngaros ofereceu-se para contribuir anualmente com uma elevada quantia em dinheiro. Tal oferta, no entanto, chegava tarde demais: acometido por uma nefrite crônica, que desde a infância o consumia, Mozart renunciava à vida, deixando de lutar contra a doença. Mesmo doente, o músico compunha obsessivamente, não vendo o que se passava ao seu redor.
Com o progressivo inchamento das pernas, Mozart viu-se obrigado a recolher à cama. Não tinha mais condições de andar. Mesmo em tais condições, não se separava da partitura de um Requiem encomendado pelo Conde Franz von Walsegg - para o músico, tal encomenda era como a encarnação da morte.
O estado de saúde de Mozart agravou-se no dia 4 de dezembro de 1791. No quarto, encontravam-se presentes Constanze, Schicaneder e seu discípulo Süssmayer; estes atenderam ao seu pedido para que cantassem trechos do Réquiem, do qual escrevera duas partes completas e esboçara as três seguintes (Süssmayer se encarregaria de concluir a obra.) Quando iniciaram a interpretação de Lacrymosa, Mozart chorou mansamente e seus dedos deixaram cair a partitura que a mantinha zelosamente. À uma hora da madrugada de 5 de dezembro de 1791, Wolfgang Amadeus Mozart estava morto. (No mês seguinte, 27 de janeiro, completaria 35 anos de idade.)
Ao amanhecer, sob um céu ameaçador, o modesto caixão foi conduzido pelas ruas por dois homens, tendo a acompanhá-los o fiel discípulo Süssmayer. Na igreja de Santo Estêvão, outras pessoas juntaram-se ao cortejo. Segundo consta, entre elas achavam-se Schicaneder, Albrechtberger (que se tornaria professor de Beetthoven), o Barão Van Swieten (para quem Mozart fizera uma nova orquestração de O Messias de Haendel) e Antonio Salieri – a personalidade mais influente, na época, em Viena, de quem Mozart fora o mais sério rival.
Mas a violenta nevasca e o impiedoso vendaval fizeram-nos desistir da longa marcha até o cemitério. Somente os dois carregadores prosseguiram, depositando o corpo na capela mortuária, de onde foi removido, à tarde, para ser enterrado em vala comum.
Somente em 1808 é que Constanza visitou o cemitério, procurando localizar a sepultura do marido, com a intenção de colocar uma cruz sobre ela; ninguém soube informar-lhe o local. (O lugar da sepultura que até hoje se desconhece.)
De Wofgang Amadeus Mozart restava somente o nome e a história de uma vida inteiramente consagrada à música. Legou-nos obras de valor inestimável, dentre elas: Rapto no Serralho (1782), Bodas de Fígaro (1786), Don Giovanni (1787), Assim Fazem Todas (1790), Flauta Mágica (1791), de admiráveis sinfonias, sonatas e concertos, obras de música religiosa e de música de câmara, e um magnífico Requiem.


REFERÊNCIAS:
NEWMAN, Ernest. História da Grande Óperas. Tradução de Antônio Ruas. 6ª ed. Porto
 Alegre: Editora Globo, 1957.
MASSARANI, Renzo. Grandes Compositores da Música Universal, nº 20. São Paulo:
 Abril Cultural, s/d.
PETIT LAROUSSE. Dictionnaire Encyclopédique. Pour Tous. 24ª tirage. Paris: Librairie
 Larrousse. 1966.




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15 de ago. de 2025

MOZART – Parte VI





– Pedro Luso de Carvalho

Dissemos, na quinta postagem deste trabalho sobre a vida e a obra de Mozart, que, em 1780 Carlos Teodoro, Eleitor Palatino da Baviera, encomendou-lhe uma ópera para o carnaval de Munique; e que, em razão desse fato, o Arcebispo de Salzburgo deu permissão ao músico para empreender viagem a Munique. A ópera, Idomeno, Rè di Creta, foi apresentada a 29 de janeiro de 1781. Leopold e Nannerl puderam assistir à estreia de Idomeno, graças à ausência de do Arcebispo, que viajara para Viena.
Idomeno foi recebida com entusiasmo pelos músicos e pelos conhecedores da música -, mas não pelo público -, e teve grande importância para fixar a reputação de Mozart, na Alemanha, como compositor de ópera; contudo, a popularidade por ele conquistada não foi duradoura. Mais tarde, Mozart alterou alguns trechos da ópera, visando dar-lhe mais vigor, pelo que se sabe. Em Dresde, no ano de 1854, a ópera foi encenada novamente, mas, sem sucesso. Idomeno foi, até a morte de Mozart, a sua composição predileta.
Depois dessa estreia, Wolfgang teria de retornar a Salzburgo, e deixar o agradável ambiente de Munique. Ficava indignado só em pensar no seu retorno. Pensava permanecer em Munique por mais algum tempo, mas recebeu uma convocação do Arcebispo Colloredo chamando-o a Viena. Na esperança de apresentar-se nas festas da Corte Imperial, o músico partiu imediatamente. Mas, isso não aconteceu. O Arcebispo queria apenas mantê-lo na condição de criado.
Mozart, que se encontrava insatisfeito com essa situação, viu somar-se à insatisfação o comportamento agressivo do Arcebispo, que o detratou com insultos na presença de subalternos da Corte. Tal fato levou Mozart, nesse ano de 1781, a cortar os laços que o prenderam por muito tempo ao seu pai e ao protetor deste, o Príncipe Arcebispo de Salzburgo. Mozart, que, como escreve Ernest Newman, “nessa época estava com 25 anos de idade, libertava-se da tutela paterna , despia a libré de músico da Corte de Salzburgo, e entrava na última década de sua vida, que para ele devia ser tão gloriosa como artista e tão cheia de desgostos e misérias como homem”.
Em Viena, Mozart passou a residir como inquilino da viúva Weber (que nenhum parentesco tinha compositor alemão Carl Maria Von Weber). Alguns meses depois, compôs a ópera O Rapto no Serralho; para essa composição, Mozart foi inspirado por um encontro que teve com Haydn, no final do ano de 1781. Anos mais tarde, 1818, Weber (Carl Maria Von Weber) apresentou O Rápido do Serralho em Dresde, sob sua própria regência. Num artigo seu, que antecedeu essa apresentação, Weber recomendou a obra a seus concidadãos.
Disse Weber, no seu artigo, que O Rápido do Serralho oferece uma quadro “que representa para todo o homem os alegres anos de sua juventude, anos cujas flores ele nunca mais colherá... Ouso afirmar – prossegue Weber – que no Serralho Mozart atingiu o cume de sua experiência artística, à qual tão-somente foi necessário acrescentar depois a experiência do mundo. A humanidade tinha o direito de esperar dele várias outras óperas semelhantes a Bodas de Fígaro e Dom Giovanni, mas nem com a melhor vontade do mundo escreveria ele jamais um outro Rápido do Serralho”.
A estreia da ópera (O Rápido do Serralho) deu-se um mês antes do casamento de Mozart com Constanze Weber, o qual foi celebrado a 4 de agosto de de 1782. Constanze era filha filha da viúva Weber (o pai de Constanze era um antigo bilheteiro do Teatro Nacional de Viena), e era irmã de Aloysia Weber, cantora famosa, de quem antes Wolfgang fora apaixonado. As irmãs eram muito diferentes, uma da outra. Aloysia tinha, além da beleza, dotes artísticos. Constanze não tinha tais dotes, mas era simples, alegre, sincera, leal e parecia corresponder ao amor que Wofgang lhe dedicava.
Depois da breve lua-de-mel do casal, Mozart arranjou vários alunos, filhos de nobres e de famílias ricas, que voltavam de férias, no outono. Com isso, ficou premido por seus compromissos. Tais compromissos, no entanto, não impediram que continuasse compondo sem cessar: obras didáticas, cinco peças sacras, a Sinfonia nº 35 em Ré Maior – I. K. 385 (“Haffner”), uma serenata instrumental, três marchas e um minueto para orquestra, três concertos, a Fantasia em Ré Maior, para Piano – I. K. 397 e várias outras peças. Até então, compusera cerca de 280 obras, abrangendo desde as missas até os pequenos minuetos.
Em 1783, um ano após o casamento, nasceu o primeiro filho de Wolfgang e Constanze. O músico fez questão de batizá-lo em Salzburgo, na Igreja de São Paulo. De passagem por Linz, no regresso a Viena, atendeu a uma sugestão do Conde Thurn e compôs a Sinfonia nº 36, em Dó Maior – I. K. 425 (“Linz”). Até novembro de 1784, compôs grande número de outras peças. Nesse ano, uma tragédia abalou profundamente o compositor: a morte de seu filho. Uma espécie de prenúncio dos anos de sofrimento que se seguiriam.
A ópera As Bodas de Fígaro, composta em 1786, ao mostrar nobres e servos lutando pelo mesmo ideal e revelar a força de nova classe, a burguesia, foi considerada subversiva pelo imperador. Mozart viu-se repudiado pela Corte e pelo público burguês. Encontrava-se endividado e atormentado pelas frequentes doenças de sua mulher. Além de Constanze , também o compositor estava com sua saúde em declínio.
Wolfgang retomou a vida errante de músico independente. Viajou para Praga, Dresden Leipzig e Berlim. Não deixou de compor. Enormes fracassos eram intercalados com triunfos eventuais. Constanze era dedicada, e não deixava de incentivá-lo. Mozart não perdia o ânimo; escreveu quartetos e trios, compôs Uma Brincadeira Musical, para Orquestra – I. K. 522, a Pequena Serenata Noturna, para Cordas – I. K. 525, e ainda quintetos e sonatas, além da extraordinária ópera Don Giovanni. Essas composições renderam o suficiente para que o compositor se mantivesse com sua mulher.
Na próxima postagem, continuaremos com a vida e a obra de Wolfgang Amadeus Mozart.



REFERÊNCIAS:
NEWMAN, Ernest. História da Grande Óperas. Tradução de Antônio Ruas. 6ª ed. Porto
 Alegre: Editora Globo, 1957.
ALMEIDA, Alberto Soares de. Grandes Compositores da Música Universal, nº 20. São
 Paulo: Abril Cultural, s/d.




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20 de jun. de 2025

MOZART - Parte V


           - Pedro Luso de Carvalho

Wolfgang Mozart partiu novamente em excursão pela Europa, visando a apresentação de novos recitais. Dessa vez, quem o acompanhou foi sua mãe. Leopold e Nannerl decidiram permancer em Salzburgo, pois temiam perder seus cargos de músicos da Corte.
Nessa viagem, o músico e sua mãe visitaram Munique, Augsburgo, Paris, Estrasburgo e Mannhein. Além de seus recitais, Wolfgang tinha a esperança de encontrar um emprego fixo. Os aristocratas, no entanto, não lhe deram o apoio esperado. Consideravam-no um “criado foragido”. Ao gênio restavam as apresentações eventuais em recitais e algumas aulas que ministrava, que lhe rendiam algum recurso pecuniário.
Wolfgang sentia-se aflito com essas dificuldades materiais, mas, mesmo assim, perseverava na composição. Escreveu obras de todos os gêneros. Durante sua estada em Mannhein, em 1777, fez uma experiência com um piano fabricado por Stein. Ficou deslumbrado com as possibilidades de sustentação de som, que os pedais proporcionavam. Escreveu, então, a Sonata para Piano, em Dó Maior – I.K. 309.
Depois dessa composição para o piano, passou a abandonar gradativamente o cravo e o clavicórdio. O piano foi então eleito o seu novo instrumento. Outra mudança deu-se na vida de Mozart, de caráter afetivo: por insistência de seus pais, mesmo estando apaixonado por Aloysia Weber, uma excelente cantora, rompeu o seu relacionamento com a jovem.
A Itália, que estava nos planos de Mozart, para, na condição de empresário de Aloysia Weber torná-la uma “prima donna”, foi substituída por Paris, para onde seguiu em companhia de sua mãe, Anne Marie Pertl Mozart, que faleceu subitamente na capital francesa, a 3 de junho de 1778. Wolfgang, desesperado, escreveu para seu pai e sua irmã, que se encontravam em Salzburgo, comunicando a morte de sua dedicada mãe.
Por contraditório que possa parecer, consolou-se com a fato de, pela primeira vez, encontrar-se livre e independente. Mozart permaneceu por alguns meses em Paris, dando lições e recitais ocasionais. Ai mantinha-se com isso e com alguma renda que lhe era alcançada por seus editores. Como não via a possibilidade de ter o sucesso que almejava, deixou Paris.
De Paris, seguiu para Mannhein, onde esperava encontrar o Eleitor e sua Corte. Como estes, encontravam-se em Munique, Mozart para lá se dirige. Em Munique, encontrou-se com Aloysia Weber, que estava com grande projeção artística. Mozart foi recebido pela jovem com frieza, famosa que estava e rodeada de admiradores. Aloysia Weber então se despede do músico com a indiferênça própria de quem se encontra no auge da fama, somando-se a isso o fato ocorrido antes, quando foi por ele desprezada.
Mozart regressa deprimido e humilhado a Salzburgo. Então socilita emprego ao Arcebispo, que o concedeu saboreando o prazer de assistir à derrota daquele que “desprezara a honra de estar a seu serviço, para correr atrás de loucos sonhos de liberdade”. Na cidade, muita gente compartilhava dessa opinião. Mozart, revoltado, dizia que “preferia tocar diante de cadeiras vazias, do que para os moradores daquela terra de mendigos”.
Apesar de todo o seu mau humor, durante o ano de 1779 Wolfgang escreveu uma obra-prima: a Missa da Coroação – I.K. 317, além de quatro peças litúrgicas, duas sonatas, três sinfonias, duas marchas orquestrais e o Divertimento para Orquestra, em Ré Maior – I. K. 334 (cujo minueto tornou-se famosissimo, em arranjos para violino e piano).
Mas enquanto o Arcebispo Colloredo não lhe dava folga justificadamente, em 1780 um fato inesperado veio livrar Mozart do ambiente mortificante que tinha em Salzburgo: Carlos Teodoro, Eleitor Palatino da Baviera, encomendou-lhe uma ópera para o canaval de Munique; esse fato impressionou o Arcebispo de Salzburgo a tal ponto que lhe permitiu viajar para Munique.
Na próxima postagem, continuaremos com a vida e a obra de Wolfgang Amadeus Mozart.


REFERÊNCIAS:
ANSTETT, J. Ph. Galeria de Homens Ilustres. Rio de Janeiro: Laemmert, 1905.
SCHNORRENBER, Roberto. Grandes Compositores da Música Universal, nº 20
São Paulo:
Abril Cultural, s/d.



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18 de mar. de 2025

MOZART - Parte IV



- Pedro Luso de Carvalho

No texto sobre a vida e a obra de Mozart dissemos, no final da na terceira postagem, que na rápida estada de Wolfgang e de seu pai, Leopold, em Milão, o jovem músico submeteu-se a um teste para o sinfonismo classicista, que na época florescia na Alemanha e na Áustria.
Dissemos, também, que a junta era composta por importantes músicos milaneses, entre os quais Giovanni Battista Sammartini, que foi um dos construtores da sinfonia e o principal responsável pela transposição das formas instrumentais barrocas, herdadas da tradição italiana, representada por Corelli, Torelli e Vivaldi.
Em 1770, nos três meses que passou em Bolonha, Wolfgang aprendeu com o Padre Giambattista Martini os segredos do contraponto. Foi admitido no círculo de músicos famosos e tornou-se membro da Academia Filarmônica Bolonhesa, rompendo, como esse seu ato, o regulamento da Academia, que para isso exigia a idade mínima de 21 anos.
A prova que fez ante a junta, para conquistar esse título, deveu-se à sua criação de uma fuga a quatro vozes em apenas meia hora, além de contrapontear em quatro partes uma sinfonia de três linhas. A junta examinadora ficou atônita com a proeza do jovem músico de apenas catorze anos. Então, uma aura de mito começou a envolver Wolfgang em virtudes de suas façanhas na Itália.
Em Roma, depois de ter ouvido uma única vez o “Miserere” de Gregorio Allegri, Wolfgang de volta a estalagem em que estava hospedado transcreveu essa peça, que a guardava na memória. Depois dessa transcrição, foi novamente à Capela Sistina para conferir sua partitura com a execução original; aí, fez as correções necessárias e deixou o recinto com as folhas escondidas no chapéu.
Daí em diante o “Miserere”, que até então era monopólio do Papa, foi divulgado e caiu no domínio público. Além de ter destruído o tabu que cercava o “Miserere” de Gregorio Allegri, o Papa não só perdoou a audácia de Wolfgang Mozart, como concedeu-lhe a “Cruz do Esporim de Ouro”, pelo surpeendente feito. Em Salzburgo, o Arcebispo Scharattenbach também homenageou Wolfgang promovendo-o a Mestre de Capela.
Já homem feito e assinando suas composições com o nome de Wolfgang Amadeus Mozart, sua obra avolumava-se com concertos, sinfonias, sonatas, óperas, missas e peças sacras mais curtas, minuetos e divertimentos ('divertimenti').
Mozart havia amadurecido em Salzburgo, com decepções e amarguras. O novo Arcebispo Hyeronimus, Conde de Colloredo, humilhava-o a ponto de obrigá-lo a fazer suas refeições com a criadagem, ao lado de cozinheiros e copeiros.
A Imperatriz Maria Teresa, que dizia que “os músicos que se põem a rodar pelo mundo à maneira de pedintes não contribuem para a boa fama da profissão”, impedia seu filho Ferdinando, Duque da Lombardia, de tomar Mozart a seu serviço.
Nessa época, a intenção de Wolfgang era continuar com suas viagens pela Europa, acompanhado de seu pai e de sua irmã; mas, ante a ameaça de demissão, caso insistissem em viajar, Leopold, com 58 anos, temendo perder o seu cargo optou por permanecer em Salzburgo, o mesmo ocorrendo com sua filha Nannerl.
Wolfgang então decidiu viajar com sua mãe. Juntos visitaram Munique, Augsburgo, Paris, Estrasburgo e Mannhein. Além de suas apresentação, tinha a esperança de encontrar um emprego fixo. Os aristocratas, no entanto, não lhe deram o apoio esperado, por considerá-lo um “criado foragido”. Restava ao gênio eventuais apresentações em recitais e algumas aulas que ministrava.
Na próxima postagem, continuaremos com a vida e a obra de Wolfgang Amadeus Mozart.
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REFERÊNCIAS:
ANSTETT, J. Ph. Galeria de Homens Ilustres. Rio de Janeiro: Laemmert, 1905.
KEIEGER e DINO. Grandes Compositores da Música Universal, nº 20. São Paulo: Abril Cultural, s/d.




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13 de fev. de 2025

MOZART - Parte III



                         - Pedro Luso de Carvalho
No texto sobre a vida e a obra de Mozart, dissemos, na última postagem (segunda parte), que a família MOZART foi recepcionada em Londres pelo Rei Jorge III, e que o menino Wolfgang tocou para o monarca; e que Wolfgang e Nannerl foram recebidos pela elite londrina com grande entusiasmo nos inúmeros recitais que deram.
Dissemos, ainda, que Leopold, que se encontrava doente, deixou Londres com os filhos para repousar em Chelsea, onde Wolfgang conheceu Johann Christian Bach, filho mais novo de Johann Sebastian Bach (Christin Bach estava com 28 anos de idade).
Embora fosse grande a diferença de idade entre eles, Wolfgang e Christin Bach tornaram-se amigos. E foi por intermédio de Christin Bach que Wolfgang teve a oportunidade de conhecer a produção contemporânea de ópera, música sinfônica e música de câmara. Também teve o ensejo de assistir às solenes apresentações das obras de Haendel.
Nas cinco sonatas e nas duas sinfonias que Wolfgang Amadeus Mozart escreveu nessa época, no início de 1764, transparece claramente a influência que sofreu de Johann Christian Bach e de Haendel.
No outono de 1764, o esquecimento viria mais uma vez - como já acontecera em Viena -, em virtude de Leopold ter se retirado de Londres para tratar de sua saúde. Embora já restabelecido, tentou inutilmente obter novos recitais para Wolfgang e Nannerl. Para a família Mozart, todo o êxito até então obtido passou a ser coisa do passado.
Leopold compreendeu então que deveria deixar Londres, o que foi facilitado em razão do aconselhamento do embaixador da Holanda, junto à Corte de Jorge III. Já nos Países-Baixos, mais propriamente em Haia, Wolfgang compôs duas árias, um madrigal para vozes mistas, uma sonata e uma sinfonia.
Da Holanda a família Mozart empreendeu novamente as excursões, e levaram a efeito apresentações em Gand, Antuérpia, Haarlem, Amsterdam, Utrecht, Malines e Vallencienes. Depois estiveram mais uma vez na França: Paris Dijon e Lyon, Daí foram para a Suíca; suas apresentações se deram em Genebra, Lausanne, Berna, Zurique e Schaffhausen.
E, uma vez de volta a Salzburg, Leopold e os filhos, Wolfgang e Narnnerl, estiveram ainda em Biberach, Ulm, Augsburgo e Munique. O retorno à casa deu-se em 1765. A jornada de Wolfgang no exterior fez com que aumentasse muito sua produção musical.
De volta à sua casa, longe de compromissos com apresentações, encontrou tempo e sossego para compor mais ainda; e teve mais tempo para estudar, sob a orientação de seu pai. Em 1766, Wolfgang Mozart compôs: seis sonatas, três peças sacras, uma cena para orquestra e duas séries de variações para cravo: a primeira sobre a ária “Laatons Juichen” de Graff e a outra baseada na canção de “Guilherme de Nassau”.
No ano seguinte, setembro de 1767, Leopold e seu filhos, Wolfgang e Nannerl, retornaram a Viena. Wolfgang estava com onze anos de idade. Justamente nessa época, a capital estava tomada pela varicela. Por precaução, a família retirou-se para a propriedade do Conde Podstsky, na região de Olmutz, mas mesmo assim os irmãos foram acometidos pela doença.
Em princípio de 1978 a família Mozart regressou a Viena. O propósito de Leopold de levar a efeito novos recitais, com o esperado êxito e o consequente lucro, como já acontecera em outros importantes centros europeus, foi frustrado, uma vez que não obteve o apoio dos imperadores.
Essa estada em Viena, sem o êxito esperado, deu, no entanto, grande proveito a Wolfgang pelas relações travadas com o famoso librelista Metastásio, e por ter tido a oportunidade de conhecer o Dr. Mesmer, famoso por seus conhecimentos de ocultismo e pela prática da hipnose. Wolfgang também conquistou a simpatia do Príncipe Arcebispo de Salzburgo, que foi por ele contratado para servir na Capela Arquiepiscopal.
Depois, com licença do arcebispo, Wolfgang e o pai partiram para a Itália, o país da ópera. Aí os grandes mestres cultivavam a música vocal. Wolfgang visitou várias cidade, passando quase despercebido.
Embora pouco notado, em 5 de janeiro de 1770, obteve grande êxito num recital que deu na Academia Musical de Verona. Nessa época Wolfgang estava com catorze anos de idade. A Academia prestou ao jovem Mozart uma importante homenagem elegendo-o Mestre de Capela Honorário da Instituição.
Na rápida estada de Wolfgang e de Leopold em Milão, o jovem músico submeteu-se a um teste para o sinfonismo classicista, que florescia na Alemanha e na Áustria. A junta era compostas por importantes músicos milaneses, entre os quais Giovanni Battista Sammartini, um dos construtores da sinfonia e o principal responsável pela transposição das formas instrumentais barrocas, herdadas da tradição italiana, representada por Corelli, Torelli e Vivaldi.
Na próxima postagem, continuaremos com a vida e a obra de Wolfgang Amadeus Mozart.
Para acessar a primeira parte deste trabalho, clicar em MOZART – Parte I



REFERÊNCIAS:
ANSTETT, J. Ph. Galeria de Homens Ilustres. Rio de Janeiro: Laemmert, 1905.
MASSARANI, Renzo. Grandes Compositores da Música Universal, nº 20
São Paulo:  Abril Cultural, s/d.




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13 de dez. de 2024

MOZART – Parte II




Pedro Luso de Carvalho


Na postagem de MOZART - Parte I, dissemos que Leopold Mozart aspirava para seus filhos, Wolfgang e Nannerl, uma sólida posição na música europeia, e que, para isso, teria que empreender excursões, contratar professores qualificados e buscar espaços para suas apresentações em grandes plateias; assim, uma vez atingido tal objetivo, teria também, como retorno desse trabalho, o alentado lucro pecuniário, além de prestígio social.
E, para iniciar tal empreendimento, Leopold fez a sua escolha: Munique, capital da Baviera. Aí seus dois filhos fariam, fora de Salzburgo, as primeiras exibições. A recepção pelo Eleitor Maximiliano, para um recital com grande repercussão foi a certeza de que a escolha de Leopold foi acertada.
O pai-empresário sentiu-se encorajado com o êxito. Foi estímulo suficiente para uma viagem mais ambiciosa: Viena, o núcleo de reunião de vários Estados germânicos. Não só a Capital do Império, mas o centro da vida artística internacional. Leopold não poderia esperar outra coisa de seus filhos que não a fama e a fortuna.
Em setembro de 1762, Leopold partiu com Wolfgang e Narnnerl para a metrópole. Na bagagem levaram um cravo para que o filho e a filha pudessem exercitar-se com o rigor imposto pelo pai. A conquista do mundo musical vienense era a meta para Leopold e seus filhos.
Em Linz, ocorreu um contratempo: Wolfgang foi acometido de forte gripe, que o deixou enfraquecido, mas acabou por recuperar-se. Não tardou para que viesse sofrer outras doenças de maior gravidade, que afetaram seu organismo. Cuidados foram tomados na convalescênça do menino, que se distraía compondo e escrevendo várias peças importantes, entre elas o Allegro em Si Bemol, para cravo ou Clavicórdio – I.K. 3 e Minueto em Fá Maior, para cravo ou Clavicórdio – I.K.6.
Le Nannerlopoldo comprazia-se com o resultado dos recitais dados por Wolfgang e . No mês de outubro de 1762, a refinada sociedade vienense era unânime em pródigos elogios a ambos. Tanto foi o sucesso dos recitais que logo a Côrte Imperial os convidou para que ali se apresentassem. O recital no palácio Schoenbrunn resultou em grande prestígio para Wolfgang Mozart. Mas, novamente, teve a saúde abalada. Uma escarlatina levou-o à cama. E, sem novas apresentações, Wolfgang logo foi esquecido por Viena.
A escarlatina foi debelada, embora tenha deixado sequelas, tais como: debilidade física e distúrbios renais crônicos; essa doença viria encurtar a vida do gênio. No mesmo ano de 1762, Mozart, Nannerl e o pai retornaram a Salzburgo. Aí o jovem iria repousar e tratar-se. Nessa pausa, o pai aproveitaria para refazer seus projetos musicais para os filhos.
Em junho de 1763, Leopold retornou com os filhos a Munique, que os recebeu com agrado. Tiveram mais uma recepção na Corte, na qual o Príncipe Von Zweibrücken acolheu- os e deu-lhes proteção. Assim foi aberto o caminho para que Wolfgang e Nannerl dessem vários recitais na cidade. Depois apresentaram-se em Augsburgo, cidade natal de Leopold, mas aí, nos três recitais que deram, não tiveram o mesmo êxito.
Em agosto  de 1763, a família Mozart chegou em Frankfurt, Alemanha, onde foi bem recebida pelos círculos culturais. Nessa cidade, num dos seus cinco recitais Wolfgang e Nannerl lotaram todos com salões e foram aplaudidos efusivamente. Numa dessas apresentações encontrava-se o jovem Goethe, que mais tarde falaria da honra que teve em conhecer Wolfgang.
O êxito de Wolfgang e Nannerl iria desestabilizar emocionalmente Leopold. Exibicionista e tomado pela vaidade, Leopod almejava agradar o público, e esquecia-se de revelar o valor artístico dos filhos. Na época em que os Mozart haviam alcançado grandes êxitos nas suas excursões, o menino Wolfgang, estava oito anos de idade e Nannerl, com treze anos.
Após um recital para o Príncipe Carlos de Lorena e sua Corte, Leopold e seus filhos deixaram Bruxelas e viajaram para a França, levando uma carta de recomendação para Melchior Grimm, secretário do Duque de Orléans. Desta forma foram introduzidos no mundo aristocrático parisiense, quando o nome de Mozart já era conhecido pelos reis de França.
Em 1764, Wolfgang e Nannerl, que já haviam visitado o palácio de Versalhes, a convite do rei de França, apresentaram-se durante uma grande recepção à mais alta aristocracia francesa, oferecida pela Corte, pela passagem do ano. No final do ano de 1764, Wofgang Amadeus Mozart havia composto quatro sonatas para violino e cravo, ou clavicórdio. Em Paris, durante a estada da família, as primeiras obras de Wofgang começaram a ser publicadas.
Depois de terem deixado Paris, dirigiram-se a Londres, onde foram recebidos pelo Rei Jorge III, que ofereceu ao menino partituras de George Wagenseil, Johann Christin Bach, Christian Abel e Haendel, todas muito difíceis para ele, que não os conhecia. Wonfgang executou para o rei todas as peças com perfeição na sua primeira leitura. Depois improvisou no órgão que se encontrava no salão, uma bela variação sobre a ária de Haendel, que acabava de conhecer e de tocar para o monarca. Assim, após inúmeros recitais, a Côrte inglesa rendeu-se ao talento do menino Wolfgang.
Leopold, que se encontrava doente, deixou Londres com os filhos, para repousar em Chelsea, onde Wolfgang conheceu Johann Christin Bach, filho mais novo de Johann Sebastian Bach.
Na próxima postagem, continuaremos com a vida e a obra de Wolfgang Amadeus Mozart. (Para acessar a primeira parte deste trabalho, clicar em: 


REFERÊNCIAS:
ANSTETT, J. Ph. Galeria de Homens Ilustres. Rio de Janeiro: Laemmert, 1905.
CAMARGO GUARNIERI. Grandes Compositores da Música Universal.Nº 20. São Paulo: Abril Cultural, s/d.
             
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